segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mais um trecho de APANHANDO AMORAS

De repente começou a sentir sono, seus olhos pesaram, seu corpo também pesou e antes que caísse andou até a cama. Deitou-se. A música continuava como também continuava a voz monótona. Fechou os olhos e uma sensação de bem estar tomou conta dela. Embalada pela música deixou-se levar. Uma moleza no corpo e a sensação de estar flutuando a fez sentir-se como se estivesse dormindo, só que, mesmo com os olhos fechados, ela via e ouvia como se não estivesse dormindo.
Acordou com um homem diante de si, olhando-a e quase tocando seu rosto, todo de branco com uma cara amarrotada e cheia de pequenas veias azuis numa pele muita branca. Assustou-se. Tentou se levantar e se sentiu impedida. Algo a imobilizava. Foi então que percebeu que estava amarrada. Seus braços estavam amarrados por fitas junto a uma grade na lateral da cama. Assustada tentou de toda maneira se livrar, mas estava firme. Olhou à sua volta e viu que havia mais duas pessoas, um homem carrancudo e uma mulher miudinha e com cara de coruja. Tentava a todo custo entender o que se passava. Onde estava e quem eram aquelas pessoas e o que queriam com ela. Quis
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lembrar-se do motivo pelo qual estava ali, mas sentiu uma névoa a envolvê-la apagando sua memória. Quis falar, gritar, não conseguiu. Percebeu que do mesmo modo também tinha na boca uma fita adesiva que a impedia de falar. Apavorada, se contorcia, tentando se livrar, mas a cada gesto seu mais sentia apertar o nó. Mais uma vez sentiu sobre si o olhar medonho do homem de branco e foi com tremendo susto que viu em sua mão uma espécie de canivete que, sem perda de tempo começava a cortá-la por baixo. A princípio ao ver a lâmina apavorou-se e foi também com surpresa que percebeu que não sentia dor, mas os golpes do tal canivete faziam–na arrepiar-se.
As outras pessoas permaneciam ao seu lado. Foi quando sentiu que alguma coisa saía de dentro de si. Não sabia o que era. Mas ao mesmo tempo em que se sentia aliviada, sentia culpa e de um modo quase mágico via uma porção de gente apontando o dedo para ela. O medo a fez olhar para outro lado. Não queria ver. Qual não foi seu espanto quando olhou para as paredes que antes eram brancas e que agora estavam cheias de manchas vermelhas as quais escorriam por elas. Era sangue. Ao olhar o chão viu também que havia poças de sangue. Um desespero maior a fez gritar arrancando a mordaça e seu grito saiu franco e desesperador. Debateu-se desesperadamente, virando a cabeça para os lados e levantando o corpo o máximo que pode até que, com um enorme esforço, conseguiu se livrar das amarras. Levantou-se e sentada na cama percebeu que tudo estava escuro. Desesperada pulou da cama e tateando no escuro correu pelo quarto tentando acender a luz. Sentiu como se mãos invisíveis a agarrassem. Em pânico e gritando desesperada conseguiu passando a mão pela parede finalmente conseguir achar o interruptor e acendeu a luz.

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