domingo, 14 de outubro de 2012


A impressão do autor sobre sua obra – Apanhando Amoras
 
Das características e aspectos da obra Apanhando Amoras, a primeira a se ressaltar é justamente a fase de transição inevitável pela qual passa todo ser humano, da idade da inocência à idade adulta. Quando começa a formar-se a personalidade que definirá o adulto, os acontecimentos externos a essa pessoa são sumamente importantes na construção de sua vida emocional e consequentemente nas particularidades de seu caráter.
 
Essa transição não é vivenciada por Clarisse da forma natural e positiva como deveria ser. Entendo que a estória de uma menina inocente e pueril, criada num ambiente desfavorável e, além disso, após a desilusão de ter sido seduzida, foge de casa aventurando-se numa cidade grande, conhecendo dissabores de uma realidade que jamais pensou existir, representa a forma negativa de se vivenciar essa transformação interior. Finalmente não conseguindo assimilar essas mudanças Clarisse faz a escolha que pra ela seria o único caminho possível. 
 
Uma segunda característica do livro Apanhando Amoras a ser considerada é a atitude de proteção assumida pela personagem do psiquiatra, que apesar de ter seus próprios conflitos, não mede esforços na tentativa de resgatar e de impedir o trágico fim de Clarisse. Eduardo, assumindo o papel de guardião de dela e indo contra as leis naturais da física de tempo e espaço, vai tentar interferir em seu destino.  
 
Entendo que os benefícios que identificam minha obra são exatamente a abordagem que faço das transformações íntimas, ainda que negativas, ocorridas na alma da personagem, e também a luta do psiquiatra em devolver a jovem de volta a sua vida antes dos fatos tenebrosos acontecerem. Outro benefício que tento passar ao leitor é a esperança de uma de uma segunda chance na vida.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mais um trecho de APANHANDO AMORAS

De repente começou a sentir sono, seus olhos pesaram, seu corpo também pesou e antes que caísse andou até a cama. Deitou-se. A música continuava como também continuava a voz monótona. Fechou os olhos e uma sensação de bem estar tomou conta dela. Embalada pela música deixou-se levar. Uma moleza no corpo e a sensação de estar flutuando a fez sentir-se como se estivesse dormindo, só que, mesmo com os olhos fechados, ela via e ouvia como se não estivesse dormindo.
Acordou com um homem diante de si, olhando-a e quase tocando seu rosto, todo de branco com uma cara amarrotada e cheia de pequenas veias azuis numa pele muita branca. Assustou-se. Tentou se levantar e se sentiu impedida. Algo a imobilizava. Foi então que percebeu que estava amarrada. Seus braços estavam amarrados por fitas junto a uma grade na lateral da cama. Assustada tentou de toda maneira se livrar, mas estava firme. Olhou à sua volta e viu que havia mais duas pessoas, um homem carrancudo e uma mulher miudinha e com cara de coruja. Tentava a todo custo entender o que se passava. Onde estava e quem eram aquelas pessoas e o que queriam com ela. Quis
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lembrar-se do motivo pelo qual estava ali, mas sentiu uma névoa a envolvê-la apagando sua memória. Quis falar, gritar, não conseguiu. Percebeu que do mesmo modo também tinha na boca uma fita adesiva que a impedia de falar. Apavorada, se contorcia, tentando se livrar, mas a cada gesto seu mais sentia apertar o nó. Mais uma vez sentiu sobre si o olhar medonho do homem de branco e foi com tremendo susto que viu em sua mão uma espécie de canivete que, sem perda de tempo começava a cortá-la por baixo. A princípio ao ver a lâmina apavorou-se e foi também com surpresa que percebeu que não sentia dor, mas os golpes do tal canivete faziam–na arrepiar-se.
As outras pessoas permaneciam ao seu lado. Foi quando sentiu que alguma coisa saía de dentro de si. Não sabia o que era. Mas ao mesmo tempo em que se sentia aliviada, sentia culpa e de um modo quase mágico via uma porção de gente apontando o dedo para ela. O medo a fez olhar para outro lado. Não queria ver. Qual não foi seu espanto quando olhou para as paredes que antes eram brancas e que agora estavam cheias de manchas vermelhas as quais escorriam por elas. Era sangue. Ao olhar o chão viu também que havia poças de sangue. Um desespero maior a fez gritar arrancando a mordaça e seu grito saiu franco e desesperador. Debateu-se desesperadamente, virando a cabeça para os lados e levantando o corpo o máximo que pode até que, com um enorme esforço, conseguiu se livrar das amarras. Levantou-se e sentada na cama percebeu que tudo estava escuro. Desesperada pulou da cama e tateando no escuro correu pelo quarto tentando acender a luz. Sentiu como se mãos invisíveis a agarrassem. Em pânico e gritando desesperada conseguiu passando a mão pela parede finalmente conseguir achar o interruptor e acendeu a luz.

Enquanto eu saía da ponte bem devagar, já que havia ficado tempo demais ali, e porque muitos carros misturados aos curiosos impediam que eu aumentasse a velocidade do meu, percebi mais na cabeceira da ponte um homem bem vestido, de mais ou menos uns quarenta anos. Percebi também, mais afastados, dois homens, e não me foi difícil deduzir que eram seguranças. O homem bem vestido olhava para o rio e sua expressão era de incredulidade. Algo nele me chamou a atenção. Percebi que estava muito nervoso e assustado e não parecia ser só mais um curioso. Passei por ele olhando-o. Ele percebeu que eu o olhava, virou-se e foi então que vi que estava chorando. Ele apressadamente se afastou em direção ao seu carro seguido pelos dois homens. Continuei olhando-o e automaticamente eu olhei também a placa de seu carro. Um pensamento me assaltou e imediatamente anotei o número. Não sei por que fiz isso, mas algo me dizia para fazê-lo. Talvez estivesse ali a chave para desvendar algum mistério. Senão vejamos: o que estaria fazendo ali naquele momento, um sujeito com atitudes estranhas, nervoso, escondendo-se, e portando-se de modo diferente dos demais, os quais faziam todo tipo de comentários, enquanto ele permanecia afastado e calado? Sempre tive um faro para mistérios e neste momento minha veia de detetive inflou-se.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012


PRÓLOGO DE APANHANDO AMORAS

                 
De repente, o trânsito ficou interrompido. Os carros foram parando um a um. As pessoas desciam de seus veículos e, admiradas, olhavam para o rio, agora sereno. Olhavam-se e se perguntavam o quê teria acontecido, o porquê da correria. Quando ficavam sabendo do ocorrido, consternavam-se. Um rapaz afoito preparou-se para se atirar no rio, mas foi contido por um senhor. Já não se podia fazer mais nada. Àquela altura, ela já devia estar bem longe. A correnteza, apesar da mansuetude da água, era muito forte. 

Debruçado na mureta, eu ainda olhava para as águas, e, perplexo e transtornado, repetia para mim mesmo: 

— Quase consegui! Mais alguns minutos e eu teria evitado! Eu a teria segurado, mas não houve tempo. Tudo foi tão rápido! Meu Deus! Ela tinha a idade da minha filha! 

Vi seu corpo sendo arrastado pelas águas. Nunca vou esquecer aquele rosto. Mais carros iam parando, e as pessoas que chegavam teciam todo tipo de comentários. Queriam saber o que havia acontecido e perguntavam aos presentes. Outros apenas observavam, mudos. O rapaz que quisera jogar-se no rio é quem contava os detalhes. Ele havia chegado logo depois de mim. Os curiosos olhavam para o rio, abanavam a cabeça. 

— Quem faria isso? - indagou, incrédulo, um sujeito. 

— Quanta loucura! Essa jovem devia estar drogada! - exclamou uma mulher para o marido. Ela ainda aproveitou para lembrá-lo de que tinham uma filha e que ela, a menina, vinha tendo reações estranhas e que permanecia o tempo todo no quarto. Ouvi-lhe dizer para o marido que, de repente, teve a impressão de que viveria algo parecido. Ela segurou no braço do marido e puxou-o de volta para o carro. Não queria ficar ali.   

Ainda debruçado na mureta, eu tentava entender: 

— Meu Deus! Outra vez não! ­- por um segundo, veio-me à mente a figura de Paulo. 

Ouvi quando um homem comentou com uma mulher que estava ao seu lado: 

— Quanta estupidez! 

Virei-me para ele e disse-lhe, desolado, olhando para baixo: 

— O que poderia justificar tamanha estupidez? O sofrimento? A dor? A rejeição? 

O homem me olhou e disse: 

— Como gostaria de saber os motivos de tal desgraça! 

Um homem de estatura baixa, calvo e de olhos brilhantes, olhando também para as águas barrentas, disse: 

— Não é a primeira vez e nem será a última. Algumas pessoas acham de morrer se jogando desta ponte. Há menos de dois anos, um rapaz se jogou daqui e, só depois de três dias, encontraram o corpo. 

Fechei os olhos e Paulo, outra vez, veio à minha mente. Vi seu rosto desfigurado pela angústia e pelo mistério. O que o teria levado a cometer essa mesma estupidez? Pensei. Até agora, ainda não tinha encontrado a resposta. 

— Não entendo. Por que abreviar a vida e deste modo? - desabafou um jovem ao meu lado, trazendo-me à realidade. 

A comoção era geral. Em momentos assim, costumamos ficar sensíveis. Penso até que se afloram sentimentos adormecidos que, voluntariamente, guardamos, na tentativa de nos proteger da dura realidade, mas que, em face de uma tragédia como esta, emergem, traindo-nos. E era isso que eu testemunhava naquele momento. Muitas pessoas, inclusive eu, deixando virem à tona suas mais escondidas emoções. Os comentários refletiam, talvez, nossas próprias angústias, nossos medos e, principalmente, a frustração de conhecer tão pouco a respeito da vida. E, ainda mais, de não saber o que pode levar uma garota na flor da idade a cometer tamanha estupidez. O que se passa na cabeça dos jovens de hoje? 

Eu ouvia as pessoas indignadas e me convencia de que algo no mundo estava errado. Aliás, tudo no mundo sempre está errado. 

— Não se tira uma vida sem motivos. - dizia um senhor de pele queimada pelo sol. 

— Se bem que, para alguns, basta apenas estar vivo. A própria vida é a causa de sua dor, pois acreditam que, pondo fim na vida, acabam-se os problemas. - ouvi isso de uma mulher pequenininha que, agarrada ao parapeito da ponte, demonstrava sua indignação. 

Meus olhos corriam pelas águas em busca de uma razão que não conseguia encontrar. Quem sabe essas águas barrentas pudessem me dar as respostas, mostrar-me alguma coisa que ninguém ali podia ver, mas que desse sentido a isso tudo? Ouvi as sirenes dos carros do corpo de bombeiros e da polícia que acabavam de chegar. 

Enquanto os bombeiros se preparavam para a busca do corpo, a polícia ouvia o jovem, que havia chegado logo depois de mim, acerca do ocorrido. Afastei-me. Não queria ter de responder as mesmas perguntas feitas pelos policiais. Nada que eu dissesse mudaria as coisas ou devolveria a vida àquela indefesa criança – isso mesmo, indefesa criança. Imaginava que aquela jovem tinha uma história triste, senão por que essa sua atitude? Só alguém com motivos muito fortes agiria assim. Nada mais podendo fazer ali, dirigi-me ao meu carro. Meus pensamentos estavam voltados para aquele rosto sumindo na correnteza. Senti que teria dificuldades para superar o que acabara de presenciar. Inexplicavelmente, uma angústia se fez dentro de mim e, por muito tempo, eu viveria com ela, até que tudo se resolvesse. 

Dei a partida no carro, queria sair dali. Não tinha mais o que fazer. Olhei pelo retrovisor e mais carros foram parando, mais curiosos foram amontoando-se na mureta. Como gostam de uma desgraça. Parecem urubus atrás de carniça. Era incrível como faziam questão de parar, mesmo sabendo que estavam atrapalhando em vez de ajudar. – pensei, desapontado. Tinha para mim que, a essa altura, ela já estaria longe dali. A correnteza a levara, como também havia levado o corpo de Paulo Henrique, que só foi encontrado três dias depois, a dois quilômetros rio abaixo. Uma dor aguda me apertou o peito. Eu devia ter feito alguma coisa. Se tivesse chegado a tempo para impedi-la, com certeza poderia ter conversado com ela, dissuadindo-a de fazer tal loucura. Teria insistido e, se fosse preciso, teria até mesmo levado-a a força dali. Talvez ela estivesse precisando apenas de um ombro amigo, de uma orientação, de uma luz. Como percebi que me sentia culpado, devia eu então pelo menos buscar as razões para aquela sua atitude. 

Imaginei que, certamente, mais pessoas estariam envolvidas neste drama e que cada uma ao seu modo contribuíra para esse trágico fim. Não era possível que uma garota resolvesse se jogar num rio como este sem que tivesse fortes motivos. Só mais tarde, eu viria a conhecer os detalhes e as circunstâncias que levaram aquela moça de apenas vinte anos a se jogar de cima daquela ponte. 

Como qualquer criatura que, sob o peso das adversidades, se deixa abater, Clarisse, e esse era seu nome, também sucumbiu ao peso que a vida lhe impôs. Ela, como tantos outros, não teve estrutura para suportar os solavancos da estrada que trilhou. 


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Valdir O. Ferreira



Esta é a estória de Clarisse, uma jovem sem maldade que aos 16 anos se vê obrigada a abandonar a casa materna no pequeno e pacato vilarejo de Ponte Nova, lugar onde se apaixona profunda e prematuramente por Marcelo, um moço da cidade, que por puro capricho decide seduzi-la.
Questionando-se sobre seu próprio destino, ela, pressionada pelo padrasto, decide abandonar o pequeno lugarejo e ir à procura de seu pai. Quando descobre que ele havia morrido começa então sua luta por sobreviver sozinha em uma cidade grande e totalmente desconhecida, onde se depara com pessoas diferentes das que conhecia, inescrupulosas e com valores opostos aos seus.
Aos poucos Clarisse vai perdendo sua inocência e, incentivada pela amiga Valquíria, deixa-se seduzir por Tomáz, um industrial e importante político local. Grávida de Tomáz que tenta obrigá-la a fazer aborto, Clarisse foge e acaba sendo levada por um bondoso motorista de táxi a uma instituição de amparo à grávidas adolescentes. Afeiçoa-se à Silvia, proprietária do abrigo, a quem jamais quis magoar... Convivendo com outras adolescentes de estórias semelhantes a sua conhece também Perpétua, governanta da instituição, mulher mística e misteriosa que a persegue, influenciando sua vida e selando o seu destino e o de sua filha.
Também é a estória de Eduardo, um psiquiatra, que angustiado por conflitos profissionais e conjugais, será peça importante no desenlace da estória de Clarisse mesmo sem conhecê-la.  Atormentado por visões e sonhos onde vê uma jovem, um bebê, um rio e a ponte... Eduardo acreditando que pode mudar o destino da jovem empreende uma jornada em busca de informações sobre sua real existência, ao mesmo tempo em que tenta dar algum sentido a sua própria vida.
Para Eduardo até que ponto a estória de Clarisse é real? Conseguirá ele salvá-la de seu destino?